Chamaram-lhe “o menino bonito do fado” e foi um dos grandes responsáveis pelo rejuvenescimento do interesse pela típica canção lisboeta no pós-25 de Abril, altura em que estava quase votada ao esquecimento. Diz cantar o fado por necessidade e por uma vocação ancestral: entre primos e irmãos, a sua linhagem está cheia de fadistas de relevo. Com uma voz inconfundível que treme de saudade e sentimento, canta Portugal e os valores portugueses como forma de expressão artística e manifesto político. Nuno da Câmara Pereira é monárquico, empresário e político mas, sobretudo, fadista.

Junho de 1951. É um início de verão quente, em Portugal, mas o país vive com frieza e distanciamento a “sucessão”, na presidência, de Francisco Craveiro Lopes a Óscar Carmona (falecido a 18 de Abril), preparada pela União Nacional, única “agremiação” política legalmente constituída. Porém, em casa da família Câmara Pereira, nas Avenidas Novas de Lisboa, vivem-se dias de grande expectativa. A qualquer momento poderá nascer o terceiro filho de Nuno de Figueiredo da Câmara Pereira e Ana Teles da Sylva Pacheco. Além de ser mais um aguardado novo membro da família há ainda a incógnita de saber o sexo do bebé, uma vez que o casal já tem duas meninas: a pequena Conceição, de 2 anos, e Francisca, que acaba de completar os 12 meses. A 19 de Junho, a dúvida chega ao fim: nasce o primeiro menino do casal, que receberá o nome do pai.

Nuno da Câmara Pereira, o pai, é engenheiro agrónomo mas nunca chegou a exercer a profissão uma vez que ingressou logo na Inspeção Nacional do Trabalho onde é agora inspetor chefe. Por isso, o pequeno recém-nascido não há de ficar muito tempo em Lisboa, uma vez que a família acompanha o pai nos diversos postos onde este vai sendo colocado. Assim, quatro anos volvidos, Nuno de Figueiredo da Câmara Pereira ruma ao Funchal com a família, que conta agora com mais dois membros: Gonçalo, nascido em 1952, e Vasco, no ano seguinte. Da cidade madeirense, a família parte para a Covilhã – onde nasce o seu sexto filho e quarto rapaz, Luís, em 1958 – para, a partir de 1959 se fixar definitivamente em Évora, cidade onde acabarão por nascer os seus dois últimos filhos: Sebastião, em 1961, e, no ano seguinte, Domingos, que ficará conhecido para a família, amigos e, um dia, Portugal inteiro, como Mico.

Os Câmara Pereira são uma família cheia de tradições ancestrais, nomeadamente o orgulho de ser português e o fomento da cultura e costumes mais genuinamente nacionais. Por isso, as danças que cedo fazem parte da formação das crianças são as três grandes do folclore português: o vira do Minho, o corridinho do Algarve e os passos rudimentares do fandango, dança esta que o mais velho dos rapazes, Nuno, virá a aprender a preceito mais tarde, já homem feito, na Azambuja, com o fandangueiro e poeta popular ribatejano Sebastião Arenque.