Cantar é outra das atividades que faz parte do quotidiano de uma casa cheia de crianças. Só que a canção tradicional entre os Câmara Pereira é o fado. Afinal, o pequeno Nuno é primo dos consagrados fadistas Maria Teresa de Noronha, Frei Hermano da Câmara, Teresa Tarouca, e Vicente da Câmara entre muitos outros.

Com tanta tradição fadista, o gosto pelo fado acaba, inevitavelmente, por ser passado às crianças Câmara Pereira e todos os irmãos aprendem a cantá-lo.

“A minha mãe tocava viola e cantava-se o fado lá em casa, em família, a propósito e a despropósito, ou seja, em festas de família, em quadras festivas e também quando alguém se lembrasse que lhe apetecia cantar” – viria a contar, anos mais tarde, Nuno da Câmara Pereira. Os “concertos” – e os fados – improvisados são, por isso, habituais e Francisca e Gonçalo são logo dos primeiros a distinguir-se, a que se juntará, anos mais tarde, Mico. Nuno é o mais reticente em alinhar nestas demonstrações públicas de talento, optando, geralmente, por comandar as operações e dirigir os concertos.

À chegada a Évora, Nuno já leva na bagagem a instrução primária feita. Chegados os 10 anos, entra para o Liceu Nacional de Évora, escola em que recebe a instrução básica de música e solfejo, bem como os conhecimentos basilares de guitarra e viola. O Colégio Nuno Álvares é a instituição escolhida para fazer o 2º ciclo do liceu, completando assim o 7º ano do ensino secundário, e aos 16 anos Nuno ingressa na Escola de Regentes Agrícolas de Évora, para obter o bacharelato de Engenharia Agrícola, grau académico que atinge com a jovem idade de 19 anos. Faltam-lhe ainda dois anos de estágio prático para atingir o grau académico superior mas há algo que paira tenebrosamente no horizonte do jovem Nuno.

Vive-se então o ano de 1970, o país está envolvido numa terrível guerra colonial que todos os anos dizima milhares de jovens portugueses. O cumprimento do serviço militar é obrigatório para todos os rapazes da sua idade e a passagem pelo teatro de guerra é praticamente inevitável. Considerando ser esse o seu dever patriótico, em vez de protelar o cumprimento desta obrigação, Nuno da Câmara Pereira apresenta-se como voluntário na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Com a patente de furriel, faz a recruta, para receber a normal instrução militar, e, durante um ano, tira a especialidade de Transmissões e Criptografia.