Este é também o ano em que se “estreia” como pai, quando a 26 de junho nasce o seu primeiro filho, que recebe, como manda a tradição, também o nome de Nuno.
A abertura de um concurso público para o Ministério da Agricultura permite ao fadista amador entrar para os quadros desta instituição e, em 1976, estabelece-se como suinicultor na Ota, em Alenquer, lançando a agropecuária O Cerdo, e como horticultor, criando a sociedade Montcesar, na Azambuja, onde constrói a maior estufa de vidro do país, com a extensão de seis hectares. O Curso de Veterinária tem, portanto, de ficar para trás.
Com uma vida tão atribulada, o fado funciona, cada vez mais, como o seu escape e o nome de Nuno da Câmara Pereira vai sendo crescentemente referido como um fadista amador que vale a pena ouvir. De tal modo que, em 1977,no mesmo ano em que nasce o seu segundo filho – uma menina, a que dá o nome de Madalena – e em que troca o Ministério da Agricultura pela posição de engenheiro técnico junto do Crédito Agrícola, Nuno da Câmara Pereira é convidado para cantar pela primeira vez em palco.
A ocasião é a festa do 3º aniversário da fundação do partido político CDS, que é comemorada no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, com um espetáculo de variedades em que participam os mais populares cantores, atores e artistas portugueses. Esta sua estreia frente ao grande público na mítica sala lisboeta não o atemoriza. Com segurança e sentimento na voz bem timbrada e o “tremidinho” tão característico dos cantores da família Câmara – reminiscente de Frei Hermano – o jovem fadista amador, de 26 anos, canta o “Cavalo Ruço”, um fado com letra de Paulo Vidal e música do maestro Frederico Valério que pertencia ao repertório da fadista, também amadora mas já muito conhecida, Mercês da Cunha Rego. Com a interpretação de Nuno da Câmara Pereira, o “Cavalo Ruço” brilha e provoca calafrios de emoção a quem o ouve. Os aplausos são entusiásticos e o seu sucesso é incontestável. É o início da sua carreira de fadista.
Antes de fazer do fado profissão, no entanto, o jovem amador considera que ainda tem de continuar a “aprender” a ser a fadista. “Tinha de me justificar. Dantes era assim: primeiro justificávamo-nos e só depois ousávamos gravar”, há de explicar 40 anos mais tarde. Por isso, Nuno continua dedicado à agricultura e à banca, enquanto vai cantando num circuito amador restrito e no seu círculo de amigos. Em 1979, troca o Crédito Agrícola de Lisboa pela Caixa Agrícola da Azambuja, onde contacta de perto com o fandango e os fandangueiros.