1985 é um ano memorável na carreira de Nuno da Câmara Pereira. Não apenas lança um álbum homónimo, o seu terceiro disco, como aceita um desafio sem precedentes: dar um concerto na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. Levar fado a esta imponente sala é algo inédito. Além disso, numa altura em que a canção lisboeta continua caída em desgraça, tentar encher os seus mais de 1.600 lugares é um risco elevado. Para colmatar o aparente caráter aziago de tal empreendimento, a data possível para a sua realização é sexta-feira, 13 de dezembro. Mas nada demove Nuno do desafio de “provar que o fado não é uma coisa menor”. Na noite marcada lá está, perante um Aula Magna esgotada e entusiástica. “Foi uma surpresa para toda a gente”, afirma Nuno da Câmara Pereira. E foi mais um passo para o “processo de paz” do público português com o fado.
Sem nunca baixar os braços, Nuno edita o seu quarto disco logo no ano seguinte, “Mar Português”, e o sucesso deste é bombástico. “É o primeiro disco de platina da música portuguesa”, afirma Nuno da Câmara Pereira. Aliás, o disco acaba por vender mais de 100 mil cópias, atingindo o galardão da dupla platina – o que no ano de 2013 equivaleria a seis Discos de Platina – e mantém-se no primeiro lugar do top de vendas português “durante um ano”, garante o artista. Nuno da Câmara Pereira é definitivamente descoberto pelo público português, sobretudo o feminino – depressa se transformando no “menino bonito do fado” –, e o renovado interesse pelos seus discos anteriores leva a que os doisprimeiros atinjam o galardão do Disco de Ouro.
Entre os maiores êxitos do álbum “Mar Português” inclui-se o tema inédito de Carlos Paião “Estou Velho”, que é também lançado em single, o célebre fado “Rosinha dos Limões” e a famosíssima canção do brasileiro Roberto Carlos “Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo”, que Nuno molda ao fado lisboeta. É com as canções deste disco que Nuno regressa, em 1986, ao palco da Aula Magna, desta vez para três concertos de lotação esgotada.
Com os espetáculos em Portugal e no estrangeiro, as solicitações para aparecer em eventos e na TV e os eternos trabalhos de preparação de novo repertório, é neste ano de 1986 que Nuno decide abandonar a carreira de engenheiro agrónomo e dedicar-se exclusivamente ao fado. Por isso, aquela é substituída pelo Novital, a casa de fados que Nuno da Câmara Pereira inaugura em Campo de Ourique, na rua S. João de Nepomuceno, onde, além do próprio, cantam muitos fadistas consagrados, sobretudo os dedicados ao chamado “fado aristocrático”.